Agrava-se a crise de liderança acadêmica da USP

17 dez 2011 by josé carlos vaz, 4 Comments »

Edvard Munch - Anoitecer na Rua Karl Johan (1892)

A crise de liderança na USP aprofunda-se dia a dia.

Reflexo de uma crise política, intelectual, moral e cultural mais ampla que submete a cidade e o estado de São Paulo,  a crise de liderança na USP  funda-se na miséria intelectual e moral que atinge  boa parte da “comunidade universitária” e de seus líderes. Alimenta-se da pobreza do debate político na universidade.

Nestes tempos de mediocridade, os prisioneiros do senso comum clamam: é preciso punir a dissidência, é preciso reduzir a pó aqueles que não aceitam as normas e as práticas hegemônicas. Não há direito a pensar contra o manual;  os jovens estudantes não têm o direito de aprender na universidade a lutar pelas causas em que acreditam.

Se estes são dias de moral rasa, pensamento linear e submissão à verdade estabelecida, não cabe mais aos professores amparar, orientar ou estimular os alunos a exercerem na plenitude sua juventude. Cabe aos professores enquadrá-los, submetê-los, puni-los.

Na era da truculência em que nos metemos, fatos como a polícia revistando professores em portas de bibliotecas da universidade tornou-se fenômeno menor, porque ela costuma mesmo é agredir estudantes.  E, se os dirigentes consideram correto que os professores sejam tratados como suspeitos pela polícia dentro de seu local de trabalho, por óbvio não terão vergonha de processar judicialmente os docentes que se atreverem a discordar e questionar as medidas administrativas e os desmandos desses mesmos dirigentes  da universidade.

Na USP, voltou-se ao  tempo da ditadura: estudante estuda, professor leciona, trabalhador trabalha…

Sob o disfarce das normas legais, dos  regimentos herdados do tempo da ditadura, do cumprimento frio da lei (daquela que interessa cumprir, por certo), aplica-se uma cruel repressão e uma diuturna atemorização.  Os rábulas da obediência sempre encontram uma lei disponível para silenciar e vingar-se de quem pensa, quem se revolta, quem age.

Na verdade, isto ocorre  porque encontra um silencioso apoio na comunidade acadêmica. A maioria dos docentes da universidade discretamente aprova, ou, ao menos, não se importa muito com tudo isso.

Nem se pode culpá-los em demasia. Em tempos em que o que vale são as quantidades de artigos no Currículo Lattes, a média ponderada no histórico escolar e a idéia de que a universidade deve ser um lugar ordeiro, pacato e “produtivo”, o que mais esperar de docentes que são ensinados desde o primeiro ano da graduação a olhar apenas para o próprio umbigo?  Fechados e atarefados em seus laboratórios, talvez nunca lhes tenham dito para que serve uma universidade. Talvez, para fazer carreira, tenha-lhes sido melhor não saber…

Como dizia Anatole France: “Quem se conforma ao costume, sempre passará por homem de bem“.

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Clique aqui para ler mais uma notícia deprimente, que deveria fazer corar de vergonha os professores da USP, mas nem será percebida.

 

 

4 Comments

  1. ferigolli disse:

    realmente é deprimente este tipo de acontecimento dentro desta universidade que deveria ser o espaço por excelência para o debate, a divergência e a reflexão crítica, muito além da aquisição de competências para o mercado de trabalho, mas o enquadramento e a punição são traços que insistem em permanecer na USP.

  2. […] suas realizações. E a USP, com o auxílio da polícia militar, vai aprofundando sua crise de liderança acadêmica e moral. Hoje, novamente, sinto vergonha de ser professor da […]

  3. […] de massa. Submetida à mesma crise de liderança que corrói o estado e suas instituições, como no exemplo da USP, a cidade é, a cada dia, menos democrática. E, a cada minuto, mais […]

  4. Motivação disse:

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