Monotrilho: para a periferia, improviso e transporte de segunda classe

18 abr 2011 by josé carlos vaz, No Comments »

A implantação do monotrilho “esticando”  a Linha 2 Verde do Metrô da Vila Prudente a Cidade Tiradentes é mais um prova do quanto os grupos dirigentes da cidade e estado de São Paulo  desprezam os bairros mais pobres da cidade e as regiões que ficam fora do eixo sudoeste da cidade.

Parece que a população que mora além da Vila Prudente não precisa de metrô. Para essa gente, bastaria um modo de transporte questionável e sem garantia de atender a demanda.

Monotrilho é um modo normalmente utilizado para transporte de média capacidade, atendendo deslocamentos curtos. É temerário imaginar que será suficente para atender uma área de alta densidade populacional com grande volume de deslocamento de forma pendular (alta demanda nas horas de pico, no sentido centro pela manhã e no sentido bairro à tarde/noite). Estudos apontam que o monotrilho, com capacidade de 40 mil passageiros/hora, deve atingir isso logo após a implantação. Ou seja, a possibilidade de expansão da demanda simplemente foi ignorada! E em uma área com alto potencial de adensamento, que será estimulado pela implantação do metrô e do próprio monotrilho.

Vá lá se saber que interesses orientaram essa decisão…

O erro de origem em tudo isso é a configuração espacial de S. Paulo. A carência de empregos nas regiões periféricas induz a grandes deslocamentos. Isto gera enormes custos de transporte, que são assumidos, em sua maioria, pelos próprios moradores desses bairros, geralmente aqueles de menor renda, na forma de pagamento de tarifas e viagens motorizadas e do desperdício de tempo no deslocamento casa-trabalho.

O que é necessário é gerar empregos e ofertar cultura, lazer e serviços de qualidade por toda a cidade. Mas o que se vê é a contramão disso: os investimentos em novos equipamentos culturais são concentrados no centro. Veja-se o caso da escola de dança em construção a 100 metros da Sala S. Paulo, com o intuito de valorizar a região do projeto Nova Luz, menina dos olhos da especulação imobiliária, da prefeitura e do governo do Estado…

Para a periferia, nem empregos, nem serviços. Nem metrô… Que se contentem com um monotrilho que já nasce trazendo um impacto ambiental negativo na destruição de árvores, no desrespeito às calçadas e na instalação de um trambolho poluindo visualmente a cidade.

Pelo menos, esse monotrilho vai servir para deixar claro para todos: para quem dirige este estado e esta cidade, os moradores da Cidade Tiradentes, de S. Mateus e de Sapopemba não precisam de emprego e serviços perto de casa, assim como não precisam de metrô. Para esses, basta um transporte de segunda categoria que a imprensa pintará como maravilha de primeiro mundo, no momento oportuno das eleições de 2012.

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