Em São Paulo, parques e áreas verdes valem um trocadinho qualquer
É impressionante falta de visão estratégica do que deve ser uma metrópole global com que se governa São Paulo. Enquanto várias cidades recuperam áreas verdes e cursos d’água, por aqui a miséria intelectual e cultural da cidade de concreto não abandona a cabeça dos que governam e dos que operam o capital.

Foto do local. Aproveite enquanto é tempo.
Prova disso é a notícia do portal do Luis Nassif a ameaça que pesa sobre o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (Antigo Parque do Estado), onde ficam o Jardim Botânico e o Zoológico.
Atualmente, uma parte do parque abriga o Centro de Exposições Imigrantes. Trata-se de uma concessão que irá terminar em breve. É uma área que fica no início da Rodovia dos Imigrantes, à esquerda de quem vai em direção ao litoral. Ali ficam as nascentes do Riacho do Ipiranga.
Ao saber que a concessão está prestes a expirar, fiquei animado: que boa oportunidade de acabar com a excrescência que foi a construção do centro de exposições naquela área para restitui-la ao parque, dando-lhe um uso mais adequado
Porém, o propósito do governo estadual é exatamente o inverso. Ao invés de ampliar o parque, ele quer ampliar a área concedida à iniciativa privada, desalojando equipamentos públicos, destruindo áreas verdes e pressionando ainda mais o parque, que é uma unidade de conservação. Começa assim, e daqui a pouco outras áreas vão sendo subtraídas e destinadas a outras concessões ou usos inadequados.
Que miopia! Por conta de uns trocados, perde-se uma oportunidade de rever um erro histórico que foi a o desmatamento e a utilização de áreas do parque para construir centro de exposições, unidade da antiga FEBEM, sede de órgãos estaduais e até uma siderúrgica.
O melhor a fazer com a área é reintegrá-la efetivamente ao parque, ampliando sua cobertura vegetal, o que talvez até tivesse impacto nas nascentes do Riacho. O que é necessário é dar usos mais nobres, tanto de preservação quanto de lazer. Tenho certeza de que isso é mais útil para a população do abrigar hotéis, estacionamentos e espaços para shows.
Para entender melhor, vamos aplicar a velha técnica de seguir o dinheiro. O que São Paulo vai ganhar com isso? Uns trocados pela concessão da área, absolutamente irrelevantes para o orçamento estadual. Além do mais, o governo estadual não é um investidor imobiliário.
Então vamos seguir o resto do dinheiro. Ora, se há mercado para mais espaços de eventos em São Paulo, por que a os empresários do setor não podem assumir os custos e adquirir as áreas necessárias. Por que temos que abrir mão de um parque para eles ganharem mais? O argumento de que São Paulo está perdendo eventos para o Rio de Janeiro não pode ser motivo para a destruição e entrega de um patrimônio de valor ambiental para a iniciativa privada poder aumentar seus lucros.
Espero que o governo do Estado tenha bom senso e não nos roube a oportunidade de ter mais áreas verdes, nem amplie a degradação de um dos lugares mais bonitos de São Paulo.
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