Não são 20 centavos, é a soberania nacional.

13 set 2014 by josé carlos vaz, No Comments »
Henri Matisse. Bouquet pour le 14 juillet 1919. (1919)

Henri Matisse. Bouquet pour le 14 juillet 1919. (1919)

Não são 20 centavos, é a soberania nacional.

Usar questões menores para ocultar as verdadeiras questões em disputa é uma das estratégias de manipulação empregadas pelo consórcio formado pela grande mídia, pelos defensores dos interesses dos EUA e pelos candidatos com programa de direita (Marina, Aécio, Pastor Everaldo) nestas eleições de 2014.

Para essa estratégia funcionar, é preciso controlar a mídia e fazer com que ela dê destaque a questões pontuais ou a interpretações da realidade que geram debate para distrair a opinião pública, enquanto os verdadeiros objetos de disputa ficam bem escondidos.  Enquanto brigamos por conta de 20 centavos, o grande jogo dos bilhões vai sendo jogado sem que o percebamos.

Assim, denúncias de atos suspeitos são tranaformadas em prncipal assunto da eleição, como o caso do diretor da Petrobrás nomeado no governo de Fernando Henrique Cardoso e demitido no governo de Dilma Roussef.  Ou o debate em torno da inflação, criando-se uma sensação de explosão inflacionária em um momento em que esta apresenta-se sob controle e dentro das metas.

Enquanto discute-se esses pontos, pouco se fala do que realmente importa.

Um desses temas que realmente importa e que é sistematicamente  negligenciado é a condução da política externa brasileira.

Em artigo recente, Kjeld Jakobsen demonstrou como há duas concepções em disputa.

A concepção de política externa representada pela campanha de Dilma Roussef, afirma a necessidade de uma política externa independente e baseada em princípios como o senso de justiça, direito e democracia, a solidariedade e respeito a todos  países, pequenos e grandes,  sem se dobrar a ninguém, abandonando a postura de “falar grosso com a Bolívia e falar fino com os EUA”.

No fundo, a proposta de Dilma Roussef aponta para antigos objetivos de política externa, já presentes no último período de governo de Getúlio Vargas (1950-1954) e nos anos anteriores ao golpe militar de 1964 (realizado com apoio inegável dos EUA). Trata-se de  firmar um caminho de desenvolvimento para o país que garanta sua independência e autonomia frente aos interesses dos EUA e demais países centrais.  Não é sem motivo que a Petrobrás é elemento central nessa disputa.

Do outro lado, o artigo de Kjeld Jakobsen aponta a semelhança dos programas de governo de Aécio e Marina, opondo-se, em suas propostas, a esses princípios. Na prática, as diferenças são tão pequenas, que podemos dizer que as duas candidaturas apresentam o mesmo programa em termos de política externa. Afora platitudes vagas e inócuas, o que se vê em uma análise mais detida das propostas de Aécio e Marina é a defesa de posições que levam a uma inserção do Brasil no mundo completamente  subordinada aos EUA e aos interesses do grande capital financeiro e multinacional. É impossível encontrar um único ponto nos programas de Aécio e Marina que contrarie algum interesse dos EUA e seus aliados europeus.  Isso vale para vários aspectos da política externa: o alinhamento a blocos internacionais (enfraquecimento do Mercosul e BRICS), acordos comerciais (prioridade a acordo bilateral com EUA e UE em detrimento de acordos conjuntos do Mercosul) e nas negociações ambientais (rompimento com o princípio de responsabilidade diferenciada dos países industrializados na redução do efeito estufa). Este último aspecto seria caso de pasmar-se, para quem ainda acreditasse em Marina como defensora da sustentabilidade,

Não dá para acreditar que seja por acaso essa identidade entre as propostas de política externa dos candidatos da direita e os interesses dos EUA/União Européia. É um alinhamento consistente que deixa claro que só há dois lados nesta eleição. Ou se afirma a soberania nacional e o direito do Brasil a construir e decidir seu futuro, ou se assume que somos um país fadado a ser um território de exploração e subordinado aos interesses do grande capital internacional. Só há dois lados. A terceira via mostrou-se, como sempre, simulacro mal intencionado.

Para ler o artigo de Kjeld Jakobsen, clique aqui. Vale a pena ler.

 

 

 

 

 

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