A extinção do CEPAM: destruição do Estado e humilhação dos municípios
Certas ações de governo são tão inacreditáveis, que só é possível atribuir a elas o objetivo de destruir o Estado e enfraquecer sua capacidade de governar.
Uma dessas iniciativas é a extinção do CEPAM, proposta pelo governo do Estado de São Paulo.
O Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam) é uma fundação do governo do estado de São Paulo, vinculada à Secretaria de Planejamento e Gestão, que apoia os municípios no aprimoramento da gestão e no desenvolvimento de políticas públicas.
Ao longo de décadas, o CEPAM tem contribuído em várias frentes para a gestão municipal, a formação de quadros e a disseminação de inovações em gestão.
Pelo visto, isto parece ser algo que governo do Estado não quer que aconteça, pois decidiu extinguir o órgão…
Quem conhece o mínimo do mínimo de gestão pública no Brasil sabe que os municípios são, hoje, o elo mais fraco na federação, no que diz respeito à capacidade de gestão. Duas grandes forças sobrecarregam os municípios brasileiros (e paulistas): as responsabilidades crescentes sem a devida contrapartida de recursos e o peso opressivo de um sistema de controle que não combate a corrupção e a má gestão, e dificulta a vida de quem quer trabalhar direito.
O fato é que boa parte dos municípios, especialmente os menores, não tem condições mínimas de, por conta própria, melhorar a qualidade da gestão e das políticas públicas a seu cargo. Seria de se esperar que o governo estadual ajudasse esses municípios a desenvolverem capacidades de governo, e esse foi o intento da criação do CEPAM. O que é necessário não é destruir o órgão, mas sim reformulá-lo e fortalecê-lo para que possa prestar esse relevante serviço de tornar os municípios mais capazes em termos de gestão pública.
Entretanto, o órgão tem sido vítima de um processo extremamente perverso, levado adiante pelos sucessivos governos paulistas, desde a segunda metade dos anos 198o. Há um consistente empenho em enfraquecer ou extinguir vários órgãos técnicos, capazes de produzir, sistematizar e circular conhecimento.
Se fosse só o CEPAM, já era gravíssimo. Mas, infelizmente, este é apenas mais um passo do processo de destruição das instituções que dão capacidade ao Estado para intervir de forma positiva no desenvolvimento. O próximo passo são as universidades públicas paulistas, como as propostas de mudanças na carreira docente da USP anunciam, prometendo a inviabilização da universidade como instituição de excelência.
Cabe perguntar: por que será que se combate o conhecimento com tanto afinco?
O conhecimento é inimigo do abuso de poder, da improvisação e da manipulação da sociedade. Fazer crescer e circular o conhecimento empodera quem dele se apropria e quebra dependências.
A extinção do CEPAM significará municípios mais fracos e mais dependentes. Se os municípios não têm capacidade de gestão, precisam passar o pires, suplicantes, junto ao governo do Estado, e não têm como gerar alternativas de políticas às impostas pelos demais poderes. Com isso, a autonomia municipal vê-se ameaçada. A capacidade técnico-política é substituída pela dependência das empresas prestadoras de serviços e pela submissão à vontade do governador, que se fortalece politicamente em detrimento da qualidade da gestão municipal.
Essa dupla dependência explicita as duas faces da mesma moeda: uma moeda que estampa, dos seus dois lados, o dístico da destruição do Estado para favorecer os interesses privados.
Na próxima terça-feira, dia 18, às 16h30, a Assembléia Legistativa discutirá e votará o projeto do governador que extingue o CEPAM. É hora de mobilização para impedir esta barbaridade.
Tags:CEPAM, Sucateamento do Estado
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