A candidatura de Haddad e a luta contra o calote civilizacional em São Paulo
Em outro texto, defendi o argumento de que São Paulo vive de passar um calote civilizacional: recusa-se a pagar os preços cobrados para ser uma cidade de pessoas civilizadas e, com isso, faz uma opção pela barbárie que tenta disfarçar com ações cosméticas e um discurso excludente baseado em uma falsa meritocracia.
Como em nenhuma outra, esta eleição municipal reforça meu argumento. São Paulo coloca-se, neste pleito, em uma encruzilhada civilizacional. Basta ver os candidatos ligados aos setores mais reacionários, golpistas e corruptos atacando a redução da velocidade nas vias feita pelo governo do prefeito Fernando Haddad. Fica evidente quem traz valores civilizatórios e quem deseja que a cidade continue como uma aldeia de bárbaros em estado de natureza, enquanto uns poucos exploram a situação em benefício próprio.
Poderia apresentar uma longa lista de motivos para votar em Fernando Haddad para prefeito, mas prefiro concentrar-me em três pontos que considero avanços civilizacionais significativos, por serem enfrentamento de um modo de pensar atrasado, tacanho e tão ao gosto dos que pensam ser donos da cidade.
Uma primeira é a humanização do tratamento dado aos usuários de crack. O Programa De Braços Abertos significou uma inflexão na política até então adotada, baseada na crimininalização e compulsoriedade do tratamento, com baixíssimos resultados. Nem acho necessário falar dos seus expressivos resultados positivos. Empolga-me, sobretudo, o fato de se tratarem os dependentes químicos como seres humanos e cidadãos.
Em segundo lugar, destaco a preocupação com a retomada do uso dos espaços públicos, com a fruição da cidade pelos moradores: intervenções em praças no centro, a abertura da Av. Paulista para as pessoas, o apoio aos blocos e manifestações culturais de rua e a nova legislação urbanística que estimula o uso das calçadas e do transporte público. Trata-se, aqui, da inversão da lógica de transformação da cidade em uma rede de enclaves fortificados vigiados por homens de terno preto e ligados entre si pelo automóvel, uma cidade onde os filhos de sua elite jamais caminham cem metros, que seja, por uma calçada. O governo de Fernando Haddad disse e provou que não estamos condenados a viver nesse tipo de cidade triste, desigual e brutalizada.
O terceiro ponto a destacar é a política de mobilidade urbana adotada nesta gestão. Basta que nos atenhamos ao sentido: foi a primeira vez em que a prefeitura de São Paulo atacou de frente a ditadura do automóvel na cidade. Não se tratou apenas de oferecer melhorias significativas no transporte público, o que sempre foi marca das gestões petistas na cidade. O mais notável é a atenção dada aos modos de transporte não motorizados. Veja-se a construção de infraestrutura cicloviária com escala suficiente para criar condições para uma mudança cultural sustentável. Veja-se, ainda, a redução da velocidade nas vias e intensificação da fiscalização, o que deixa claro que o motorista de automóvel não é um reizinho circulando em seu bólido pela cidade. Não é sem razão que tantos caloteiros civilizacionais nutrem um ódio profundo pelo prefeito…
Em tudo isto, há um sentido: tentar fazer a cidade mais humana e mais civilizada, transformá-la em um lugar onde todos possam viver bem. Logicamente, qualquer pessoa que se coloque à esquerda de maneira sensata reconhecerá nisto um valor importante a ser preservado e defendido.
Pensando bem, se tivéssemos um setor conservador inteligente e honesto, talvez também ele aplaudisse um pouco o governo de Haddad: ao fim, esse movimento de certa maneira cria condições para que a cidade seja mais atrativa para os investimentos do capital financeiro internacional, reforçando São Paulo no papel do que Milton Santos chama de “metrópole internacional do terceiro mundo”. Mas São Paulo está longe de ter qualquer coisa que pareça um setor conservador inteligente e honesto: o que temos por aqui é uma cambulhada de oportunistas de mãos dadas com profissionais do fisiologismo e da ganância mais avarenta, fazendo demagogia para deleite dos ignorantes voluntários que, de tão toscos, se acham gênios.
Para completar esta declaração de voto, indico dois candidatos a vereador:
a) Simão Pedro: foi chefe de gabinete do Deputado Paulo Teixeira, depois deputado estadual por três mandatos. Como deputado, foi ativo opositor dos governos estaduais e defensor de causas importantes no campo da habitação, segurança alimentar e reforma agrária, software livre, igualdade racial, entre outras. Acompanhei bastante seu trabalho como deputado e tenho muito orgulho dos votos que lhe dei. No governo Haddad foi Secretário de Serviços. Nessa posição, foi o responsável pela implantação de mais de uma centena de praças com internet gratuita, dos FabLabs (oficinas de criação com acesso livre a tecnologias de ponta, como impressoras 3D), da modernização da iluminação pública, com instalação de lâmpadas de led, com grande impacto na periferia, e pela ampliação da coleta seletiva. Conheça mais em http://www.simaopedro.com.br/
b) Nabil Bounduki: professor da FAU-USP, é um dos maiores especialistas brasileiros em questões urbanas. Na Câmara Municipal, foi relator dos planos diretores de 2002 e 2014, sendo um nome fundamental para a aprovação do Plano Diretor da cidade, com vários dispositivos que permitem a melhoria das condições de vida e a humanização da vida urbana. Foi Superintendente de Habitação Popular (1989/92), Secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (2011/12) Secretário Municipal de Cultura no governo de Fernando Haddad. Conheça mais em http://www.nabil.org.br/
Tags:Eleições, Fernando Haddad, Haddad, mobilidade urbana, Política, São Paulo
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