Um jeito de olhar a Extensão

29 out 2014 by josé carlos vaz, No Comments »

UM JEITO DE OLHAR A EXTENSÃO

Texto de referência da chapa Eduardo L. Caldas e José Carlos Vaz para a Comissão de Cultura e Extensão da EACH-USP

Inicialmente o nome “Extensão” soa estranho. Deixa a impressão de algo que se estende e a pergunta que fica é a seguinte: se estende de onde para onde? A resposta mais corriqueira é de que se estende da Universidade para a sociedade. Então, a estranheza aumenta porque fica implícito um sentido de separação (da Universidade com a sociedade) e de hierarquização.

Contra essa impressão há um exemplo relevante e histórico da Extensão Universitária no Brasil, amplamente comprometida com a troca de saberes de grupos específicos da sociedade e a universidade, que é o Serviço de Extensão Universitária da Universidade de Recife, dirigido por Paulo Freire.

É com Paulo Freire que a universidade se aproxima dos movimentos populares por meio da alfabetização de adultos e das ferramentas e metodologias necessárias, desenvolvidas e reelaboradas a partir da referida prática. A Extensão, nesta medida, pode ser interpretada como forma de pesquisa-ação por meio da qual o que a ciência mais ortodoxa chama de objeto é transformado em sujeito.

A EACH guarda muitas relações com uma extensão nos moldes do Paulo Freire: tem demanda social, movimentos organizados em torno dela, espaços de abertura à comunidade etc.

Além disso, pela sua constituição, a EACH tem condições de realizar atividades nas oito áreas temáticas definidas pelo Fórum de Pró-Reitores da Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (Forproex): comunicação, cultura, direitos humanos e justiça, educação, meio ambiente, saúde, tecnologia de produção, trabalho. Além dessas áreas, há o reconhecimento de outras áreas emergentes, tais como: direito ao meio ambiente saudável e sustentável; direito à informação e à comunicação livres e qualificadas; direito de apropriação e geração de novas tecnologias.

No entanto, a tensão entre a Extensão que se estende e a Extensão que dialoga parece continuar presente na Universidade brasileira e também na EACH. Queremos nos posicionar, claramente, do lado da Extensão que dialoga e se aproxima da sociedade.

Em decorrência desta compreensão da Extensão, propomo-nos a atuar na CCEX a partir dos seguintes posicionamentos:

  1. A Extensão é um dos “tripés” da atividade acadêmica e não deve ser visto de forma isolada e/ou apartada dos outros dois. Nesta medida, a Extensão acadêmica é uma cultura, uma prática, um compromisso que deve ser tratado como elemento central da identidade da EACH.
  2. A Extensão é uma das portas da Universidade a partir das quais se estabelece o diálogo com a sociedade, para construir agendas conjuntas e não somente atender demandas ou impor atividades previamente pensadas. Nesta medida, defendemos que sejam priorizadas e valorizadas as atividades de Extensão que não vejam o outro como “objeto” ou “receptáculo” de algum projeto previamente concebido, mas reconhece no outro um sujeito de direitos e deveres, um portador de valores, culturas e saberes tão legítimos quanto àqueles derivados do saber acadêmico e erudito.
  3. A Extensão é o espaço da troca e da partilha, por meio do qual é possível e desejável construir a relação de compartilhamento do conhecimento acadêmico, científico e tecnológico produzidos na universidade com os conhecimentos e saberes de que são titulares as muitas parcelas da sociedade. Nesta medida, ao realizar a Extensão como troca e partilha, tem-se a oportunidade de exercitar o que é mais caro à ciência: a observação. Portanto, defendemos que as atividades de Extensão precisam aproximar-se das atividades de pesquisa.
  4. A Extensão é um espaço de esforço para o exercício da interdisciplinaridade. Nesse sentido, ela é vital para o sucesso do projeto da EACH, inclusive na sua articulação com as atividades de ensino.
  5. Na prática, a Extensão é menosprezada pelo aparato institucional que nos cerca, o que desestimula a participação dos docentes nas atividades de Extensão. Nosso compromisso é defender um aumento do estímulo, visibilidade e reconhecimento das atividades de Extensão na EACH, inclusive no que diz respeito à sua valorização pela carreira docente e ao envolvimento de servidores não-docentes e estudantes.
  6. Entendemos que a CCEx deve ter um papel ativo na promoção das atividades de Extensão, criando condições para sua ampliação. Não pode ser reduzida a uma instância burocrática de aprovação de projetos e bolsas. Pretendemos atuar na CCEx de forma a promover um debate aberto sobre a Estratégia de Extensão da EACH, que vá presidir ações de mapeamento de oportunidades, articulação de parcerias e busca ativa de fontes de financiamento das atividades de Extensão.
  7. A vitalidade que pretendemos dar à CCEx exige uma representação atuante e disposta a conduzir e articular diálogos. Para isso, julgamos importante promover debates e consultas prévias e estruturadas aos docentes para tomadas de posicionamento na CCEX.

Referências

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 14ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010.

PAULA, João Antônio de. A Extensão universitária: história, conceito e propostas. Interfaces – Revista de Extensão, v. 1, n. 1, p. 05-23, jul./nov. 2013.

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