“Quem quer dinheiro?”: a repetência premiada nas escolas paulistas

13 ago 2010 by josé carlos vaz, 1 Comment »

Quando vi a notícia pela primeira vez em um blog, pensei que devia ser piada. Mas depois ela apareceu em outros locais, inclusive na imprensa. Era uma verdade dessas de nos fazer descrer.

O governo do Estado de São Paulo resolveu que aluno que tirar nota baixa agora ganha um prêmio em dinheiro. É isso mesmo! Alunos que forem mal em Matemática e frequentarem aulas de reforço receberão um incentivo de R$ 50. Clique aqui para ver a notícia.

O que está por trás dessa idéia?

Primeiramente, o risco de ser contraproducente é enorme: muitas crianças poderão tirar notas baixas propositamente, para ganhar os R$ 50. Parece uma gag de programa humorístico. Mas isso nem é o pior; pelo menos as crianças ganharão um dinheirinho…

O problema maior é a miséria intelectual e moral de se propor uma coisa dessas.

Propor essa “repetência premiada” é um ataque apenas aos sintomas, não afeta de maneira nenhuma as causas do problema.  Para isso, não se vê maiores soluções.

Esta medida mostra que o grupo político que dirige o estado há quase trinta anos consegue apenas fazer uma política de tapa-buraco educacional. E fracassada. Seduzidos pelo lucrativo mercado, e com o silencioso apoio da classe média, transformaram a escola pública em “coisa para pobre”.

Implantar a “repetência premiada” é reconhecer, sem declarar, a má qualidade do ensino público paulista. Se é preciso uma ação dessa envergadura para oferecer reforço escolar, é sinal de que o ensino vai mal. Por mais que o governo do estado tente convencer-nos do contrário, com os milhões de reais torrados em propaganda eleitoral disfarçada de publicidade oficial.

A educação pública paulista rendeu-se a uma prática cada vez mais disseminada: os únicos insumos para o desenho de  políticas públicas são sua visibilidade na mídia e os possíveis benefícios (políticos ou outros) a trazer aos governantes.

Não é com cartilhas milionárias, impressas sempre pelas mesmas gráficas, que se constrói educação de qualidade (veja o site NaMaria News para conhecer o balcão de negócios da educação paulista).

Tampouco pagando salários de fome, distribuindo vales-coxinha e mandando a polícia bater nos professores é que se vai  construir um ambiente propício ao aprendizado nas escolas.

Nem prossigo na listagem das mazelas e fracassos da educação pública paulista porque, se esse grupo político teve quase trinta anos e não fez coisa melhor que isso, não vai ser agora -e muito menos lendo esta crítica modesta- que aprenderão.

O que se quer ensinar?

Por fim, o mais lamentável. Essa proposta fundamenta-se na ideia de que o único valor que move os indivíduos, desde a infância, é o dinheiro.

A “repetência premiada”, se implantada, ajudará a  consolidar essa visão egoísta do mundo. Ensinará às crianças que não devem estudar para aprender, ou para serem cidadãos melhores, ou para melhorar seu futuro. Nada  disso: os educadores de mercado ensinam que as crianças só devem fazer o que lhes der um benefício imediato. Esses educadores ensinam que o dinheiro é a única recompensa que interessa.

Sou obrigado a considerar que quem tende a acreditar nisso, provavelmente pratica o mesmo…

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One Comment

  1. Paulo P. disse:

    Estou de acordo. Pior que a ineficácia da política, é seu conteúdo ideológico de fortalecer uma visão capitalista da educação. Parabéns pelo post.

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