Jd. Romano: sobrou o direito a apanhar da polícia

8 fev 2010 by josé carlos vaz, 3 Comments »

Lembro-me do governo de Paulo Maluf, nos estertores da ditadura militar. Várias manifestações populares eram tratadas a cassetete pela polícia a mando do governador.  Depois veio a redemocratização, e as coisas melhoraram um pouco.

Nos últimos tempos, no entanto, têm acontecido fatos em SP que devem preocupar as pessoas que acreditam na democracia e na paz.  Neste blog, nos últimos meses, comentei a invasão da USP, onde vários colegas professores, além de estudantes e funcionários,  foram agredidos pela polícia. Também comentei a repressão covarde de uma manifestação contra aumento da tarifa de ônibus, imortalizada pela foto de um rapaz imóvel, de mãos para cima, recebendo um spray de pimenta no rosto. Há algumas semanas, uma manifestação do Sindicato dos Jornalistas sobre o PNDH recebeu uma “estranha visita” de alegados policiais.  Uma operação muito bem articulada  está levando à prisão, no interior do estado, líderes do MST  que lutam por reforma agrária.

Hoje, mais um fato revoltante. A manifestação de moradores do Jardim Romano, Jardim Helena e outros bairros atingidos pela enchente e submersos há dois meses no esgoto, terminou em agressão policial.  Conheço gente que estava lá, pessoas de bem, solidárias, que viram a barbárie daqueles que deveriam defender o povo, mas são comandados por gente que despreza esse mesmo povo, lá do alto dos palácios.

Não basta todo o descaso e incompetência  que levou as pessoas à perda dos seus pertences, à morte, à doença e à humilhação de viver na mais desumana das condições. Agora ainda são agredidas pela polícia e pela guarda municipal. É muita falta de respeito, especialmente com os pobres desta cidade. Ou, como disse o vereador Jamil Murad, “um crime contra o povo”.

Para além da revolta que não há como deixar de sentir, vem a preocupação. Por que a repressão violenta tem se tornado a resposta padrão do governo estadual, através da polícia?  Por que um governo de um partido que surgiu no meio da luta pela redemocratização do Brasil se presta a reforçar a criminalização dos movimentos sociais? A quem ele quer servir?

Todo mundo sabe que não sou do PSDB, nunca votei nesse partido. Mas sei que nele há pessoas de bem, gente séria que defende a democracia e respeita as lutas sociais. O que me deixa triste é que não se vê essas pessoas -muitas são as mesmas que combatiam a repressão de Paulo Maluf, há 30 anos- levantarem-se contra essas arbitrariedades, que se vão tornando a prática aceita e legítima.  Parece que todos vão se conformando à hipocrisia da classe média paulistana, que despreza os nordestinos e pobres.

Fico pensando no que diria o ex-governador Franco Montoro… É muito triste ver os democratas de ontem  tornarem-se autoritários repressores. É revoltante perceber que quem vive há dois meses no esgoto tem, apenas,  gás de pimenta e cassetete nas costas a receber. De quem um dia lutou contra a ditadura.

Mais:

Depoimento de quem esteve lá: Conceição Oliveira

Veja vídeo-denuncia produzido pelo grupo Rede Livre Leste (movimento cultural que abrange vários coletivos artísticos da Zona Leste),   dando voz às vítimas e lideranças de associações de bairro, com informaçoes que não estão circulando na grande mídia.

A cobertura no blog Viomundo tem mais informações.

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3 Comments

  1. […] mais cidadã: um dos resultados do choque de gestão na segurança pública foi a valorização dos direitos dos cidadãos pela polícia paulista e a  aproximação crescente entre policiais e povo, e o respeito pela […]

  2. […] tempo,  escrevi aqui sobre minha tristeza em ver a nova UDN em que se vai transformando o PSDB.  Na ocasião, referia-me à lamentável situação de  ver antigos defensores da democracia e dos movimentos […]

  3. […] Simão Pedro é um parlamentar que explora temas de ponta e tem alta capacidade de formulação e debate de políticas públicas. Mas consegue juntar isso a uma presença constante junto aos movimentos populares e ao cotidiano das lutas do povo pobre da periferia. Foi um dos parlamentares que envolveu-se diretamente na defesa das vítimas do crime ambiental e contra a vida humana perpetrado pelo governo do Estado com a enchente do Jardim Pantanal. […]

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