22 dez
2011

As favelas mais inflamáveis do mundo

Estranhamente, as favelas de São Paulo devem ser as mais inflamáveis do mundo.  Periodicamente, assistimos ao incêndio de uma delas. Ocorrem, também estranhamente,  em horários e situações nas quais os prejuízos são principalmente materiais.

Drawing Near – Joseph Minton (2007)

Mais estranhamente, ainda, em geral esses incêndios ocorrem em favelas em áreas valorizadas, nas quais se pretende realizar obras públicas ou empreendimentos imobiliários (ou obras públicas para viabilizar empreendimentos imobiliários…).

Nesta quinta-feira, dia 22 de dezembro, mais um desses fatos ocorreu, com o incêndio da Favela do Moinho, na região central da cidade. Estranhamente, a favela fica próxima à área do Projeto Nova Luz, menina dos olhos do governo municipal, destinado a transformar a região em torno da Luz e Campos Elíseos no novo pólo de negócios da construção civil e da especulação imobiliária de São Paulo.

Nessa região fica a Cracolândia, local onde o poder público tolerou e estimulou a criação de um gueto de viciados em crack, sem atendimento de saúde adequado e expostos a um ambiente sórdido.

Esse gueto da Cracolândia não pode ser considerado apenas obra da incompetência ou do desprezo em relação aos setores mais marginalizados da sociedade.Tem a função de contribuir para degradar o entorno e, com isso,  justificar o arrasamento da região, com a expulsão dos moradores de baixa renda e dos pequenos comerciantes, que devem ser substituídos por gente mais limpinha e bonita:  empreendimentos para a classe média e para grandes empresas.

No caso da Favela do Moinho, todo mundo sabia do risco que seus moradores corriam, mas a inação da prefeitura foi tudo o que eles tiveram.

Vejam, abaixo, depoimento do urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Pólis, analisando o caso e informando que os movimentos de moradia e pesquisadores, como ele próprio, já haviam denunciado os riscos que os moradores da Favela do Moinho corriam.

Kazuo Nakano também informa que 54 edifícios do Centro já foram identificados para desapropriação e conversão em moradia popular, mas, estranhamente,  continuam fechados, sem as providências da prefeitura.

Em uma cidade com um enorme estoque de imóveis vagos no centro da cidade, os pobres ficam expostos à morte e à humilhação cotidiana, e já não podemos mais confiar que seja apenas por incompetência do governo municipal.

17 dez
2011

Agrava-se a crise de liderança acadêmica da USP

Edvard Munch - Anoitecer na Rua Karl Johan (1892)

A crise de liderança na USP aprofunda-se dia a dia.

Reflexo de uma crise política, intelectual, moral e cultural mais ampla que submete a cidade e o estado de São Paulo,  a crise de liderança na USP  funda-se na miséria intelectual e moral que atinge  boa parte da “comunidade universitária” e de seus líderes. Alimenta-se da pobreza do debate político na universidade.

Nestes tempos de mediocridade, os prisioneiros do senso comum clamam: é preciso punir a dissidência, é preciso reduzir a pó aqueles que não aceitam as normas e as práticas hegemônicas. Não há direito a pensar contra o manual;  os jovens estudantes não têm o direito de aprender na universidade a lutar pelas causas em que acreditam.

Se estes são dias de moral rasa, pensamento linear e submissão à verdade estabelecida, não cabe mais aos professores amparar, orientar ou estimular os alunos a exercerem na plenitude sua juventude. Cabe aos professores enquadrá-los, submetê-los, puni-los.

Na era da truculência em que nos metemos, fatos como a polícia revistando professores em portas de bibliotecas da universidade tornou-se fenômeno menor, porque ela costuma mesmo é agredir estudantes.  E, se os dirigentes consideram correto que os professores sejam tratados como suspeitos pela polícia dentro de seu local de trabalho, por óbvio não terão vergonha de processar judicialmente os docentes que se atreverem a discordar e questionar as medidas administrativas e os desmandos desses mesmos dirigentes  da universidade.

Na USP, voltou-se ao  tempo da ditadura: estudante estuda, professor leciona, trabalhador trabalha…

Sob o disfarce das normas legais, dos  regimentos herdados do tempo da ditadura, do cumprimento frio da lei (daquela que interessa cumprir, por certo), aplica-se uma cruel repressão e uma diuturna atemorização.  Os rábulas da obediência sempre encontram uma lei disponível para silenciar e vingar-se de quem pensa, quem se revolta, quem age.

Na verdade, isto ocorre  porque encontra um silencioso apoio na comunidade acadêmica. A maioria dos docentes da universidade discretamente aprova, ou, ao menos, não se importa muito com tudo isso.

Nem se pode culpá-los em demasia. Em tempos em que o que vale são as quantidades de artigos no Currículo Lattes, a média ponderada no histórico escolar e a idéia de que a universidade deve ser um lugar ordeiro, pacato e “produtivo”, o que mais esperar de docentes que são ensinados desde o primeiro ano da graduação a olhar apenas para o próprio umbigo?  Fechados e atarefados em seus laboratórios, talvez nunca lhes tenham dito para que serve uma universidade. Talvez, para fazer carreira, tenha-lhes sido melhor não saber…

Como dizia Anatole France: “Quem se conforma ao costume, sempre passará por homem de bem“.

___________________________

Clique aqui para ler mais uma notícia deprimente, que deveria fazer corar de vergonha os professores da USP, mas nem será percebida.

 

 

15 dez
2011

Notas – Tendências e Inovações na Gestão Pública 2011

Abaixo estão as notas da disciplina.

Agradeço a todos e todas pela colaboração ao longo do semestre, foi uma ótima experiência.

tendinov2011-notas-public-matutino

tendinov2011-notas-public-noturno

 

3 dez
2011

Os piores cegos são os covardes.

O segredo de ser jovem – mesmo quando os anos passam, deixando marcas no corpo – é ter uma causa a que dedicar a vida. (D. Hélder Câmara)

 

Leia mais: A Cara da Dignidade (Emir Sader)


18 nov
2011

Prova Tendências e Inovações em Gestão Pública – 2011

A prova é a elaboração de um boletim anunciando um congresso de gestão pública.

As tarefas da prova são:

  • Elaborar a programação do evento, indicando palestras e conferências, casos de sucesso a serem apresentados e debates ou mesas-redondas.  Logicamente, essa programação deve refletir tendências ou abordar temáticas que considerem importantes, mas não precisam coincidir com os temas dos debates realizados em aula.
  • Elaborar a carta dos organizadores, apresentando uma síntese do conteúdo do congresso, justificando sua escolha e articulando os vários conteúdos apontados na programação.
  • Elaborar as 10 metas de um pacto nacional para o fortalecimento da gestão pública, a ser firmado no evento.

Faça download do material aqui:  http://www.vaz.blog.br/deposito/prova-tendinova-2011.doc

Vocês podem usar o mesmo arquivo para escrever o texto, aproveitando o formato. Sugiro que escrevam os textos separadamente e façam copiar-colar no documento, para ficar mais fácil. Caso tenham dificuldades de formatação, podem apresentar um documento simples, sem seguir a formatação, mas respeitem o tamanho aproximado da diagramação apresentada.

Podem ser trocadas ou incorporadas novas ilustrações e fotografias no boletim, a seu critério, mas as ilustrações não farão parte da nota.

A prova deverá ser entregue  impressa até  1/12 (matutino)  e 2/12 (noturno).  Por favor, não enviem por e-mail.

 

 

 

 

4 nov
2011

Especialização em Administração no TCM-SP

A Escola Superior de Gestão e Contas Públicas Conselheiro Eurípedes Sales, do Tribunal de Contas do Município de São Paulo,  abriu inscrições para os seguintes cursos gratuitos de pós-graduação, credenciados pelo Conselho Estadual de Educação:
-Especialização em Administração Pública (turma 3)
-Aperfeiçoamento em Controladoria Governamental (turma 2)
-Aperfeiçoamento em Gestão Pública Ambiental (turma 1)
-Aperfeiçoamento em Direito Administrativo (turma 1)

a)Requisito: Curso de Nível Superior Completo
b)Público-alvo: Servidores públicos e sociedade em geral
c)Início do Curso: 1º Semestre de 2012
d) Inscrição: http://www.escoladecontas.tcm.sp.gov.br/posgraduacao/posgraduacao.htm, no período de 31 de outubro a 03 de dezembro de 2011.

24 out
2011

São Paulo: O improviso resume a história da cidade

Nataly Costa, de O Estado de S.Paulo

Reforma do Viaduto do Chá, para permitir a passagem de bondes elétricos, em 1902.

Foram 30 anos de pesquisa, 25 mil fotos e centenas de informações sobre a história de São Paulo. A ideia era compilar tudo em cinco volumes, depois “resumidos” a três, cada um com quase 200 páginas. Foi o que o arquiteto e professor da Universidade de São Paulo (USP) Nestor Goulart Reis precisou para contar e ilustrar com fotos os Dois Séculos de Projetos no Estado de São Paulo, livro que ganhou na segunda-feira o prêmio Jabuti de Arquitetura e Urbanismo.

O que, na sua opinião, resume a história da urbanização de São Paulo? Falta aos políticos um melhor entendimento?

O improviso resume essa história. Nada foi feito de forma organizada, os Planos Diretores não são respeitados. Fizeram algumas obras pontuais, mas o conjunto não tem coerência. A visão política ainda é rural, de coronéis. Os administradores não se sentem representados pelo espaço urbano. Eles tentam vender a imagem de que estamos “devagar, mas chegando lá”. Não: estamos devagar, mas ladeira abaixo.

A urbanização piorou a qualidade de vida dos moradores?

Não necessariamente. Em 1955, por exemplo, já com 3 milhões de habitantes, era uma cidade que funcionava para ricos e pobres. A qualidade de vida já foi melhor – e de vida urbana mesmo. Hoje, até para a alta renda, a cidade tem pouquíssimos espaços confortáveis. Tirando Higienópolis, parte do Morumbi e muito pouco dos Jardins, existe pouca qualidade urbana. Um arquiteto americano veio aqui uma vez e me disse: “Vocês são loucos, o lugar mais bonito de São Paulo é em volta das represas! Vocês têm essa paisagem magnífica e ficam apinhados entre o Tietê e o Pinheiros!”. E o entorno das represas é degradado, jogamos tudo isso fora.

O avanço da especulação imobiliária e as construções desordenadas prejudicaram a cidade?

A administração pública também participa das decisões do mercado imobiliário – se não participasse, não existiria tanta extravagância. Acontece que os empresários e as construtoras também pagam o preço de ter uma cidade desorganizada. O fato de a cidade ser como é hoje prejudica o mercado. Veja o eixo da (Avenida Engenheiro Luís Carlos) Berrini, com ruas estreitas, onde não cabe mais carro. Todo mundo quer investir no mesmo lugar. Por outro lado, não há alternativas atraentes em outras partes. Existe um jogo histórico entre o capital privado e o público: em alguns períodos, manda o capital privado; depois, ele sai, entra o Estado. E aí não há continuidade nem visão de conjunto.

Dá para dizer que a cidade é modelo de alguma coisa?

Deveria servir de modelo. A Paulista deveria ser um brinco. E olha como é caótica. Várias regiões deviam ser modelos, as áreas periféricas deveriam ser melhoradas. São Paulo é uma metrópole de alcance mundial, com estrutura provinciana. Temos tanto potencial e aproveitamos tão pouca coisa. Os habitantes de São Paulo mereciam mais.

Falta planejamento?

Os planejamentos são feitos a toque de caixa. São os projetos para uma cidade que determinam custo, organização, qualidade das obras. Mas não existe planejamento para 30 anos, só para 2, 3 anos.

O que pode melhorar?

O transporte público é precário. Dizem que São Paulo é uma cidade difícil, que as pessoas levam 2h do trabalho para casa. Não é verdade. Tem gente que leva 3h, 4h em dias razoáveis. O trânsito é a segunda jornada de trabalho. O culto ao carro existe, mas será que uma pessoa humilde gastaria dinheiro para comprar e manter um carro se o transporte público funcionasse? Se você for para Londres ou Paris, o metrô é o meio de ir ao trabalho. As pessoas não pensam em outro.

DOIS SÉCULOS DE PROJETOS NO ESTADO DE SÃO PAULO: Grandes Obras e Urbanização
Nestor Goulart Reis, Editora EDUSP, 2011
Mais informações sobre o livro.

 

4 out
2011

Prêmio CONIP de Excelência em Inovação na Gestão Pública

O 17º Congresso de Informática e Inovação na Gestão Pública – CONIP ocorrerá em 17 e 18 de novembro, no Rio de Janeiro, com o tema “A praça é do povo: os desafios da era digital”.

Paralelamente, o congresso promove o 14° Prêmio CONIP de Excelência em Inovação na Gestão Pública. Trabalhos do Brasil inteiro estarão concorrendo. Desde 1998, o CONIP premia os melhores projetos que utilizam a tecnologia da informação para a melhoria dos serviços públicos.

O 14º Prêmio CONIP de Excelência em Inovação na Gestão Pública tem como objetivo identificar e divulgar as iniciativas de
modernização da administração de todas as esferas governamentais, bem como ONG’s e fundações que contribuem para o
fortalecimento da cidadania e da gestão pública.

Categorias do Prêmio 2011:
• Construir uma sociedade mais justa
• e-gov para desenvolvimento e geração de empregos
• Participação e transparência
• Administração pública eficiente e eficaz – Aplicações internas
• Administração pública eficiente e eficaz – Aplicações voltadas para o cidadão
• Inovação tecnológica

Posters:
Neste ano o Prêmio CONIP vai selecionar trabalhos concorrentes ao Prêmio para serem apresentados como Posters. Os Posters
não concorrerão ao Prêmio de Destaque do Ano, mas terão espaço para se apresentarem no ambiente da exposição, em
horário pré-determinado.

Informações para inscrição: www.conip.com.br/Capa/PremioConip2011

1 out
2011

A gestão do desenvolvimento local no Brasil: (des)articulação de atores, instrumentos e território

O artigo A gestão do desenvolvimento local no Brasil: (des)articulação de atores, instrumentos e território, que escrevi com Rafael D’Almeida Martins (Nepam-Unicamp) e  Eduardo de Lima Caldas (EACH-USP), recebeu o Prêmio Jorge Oscar de Mello Flôres- 2010, como o melhor artigo publicado na Revista de Administração Pública-RAP da FGV, no ano de 2010.

David Teniers II, Os três filósofos (1651-1656). Coleção de Arte Flamenga da National Gallery of Ireland.

A Comissão Julgadora foi constituída pelos Professores Armando Cunha (FGV), Luciano Junqueira (PUC/SP) e Tânia Fischer (UFBA).

O artigo foi originalmente publicado em Rev. Adm. Pública, vol.44, no.3, Rio de Janeiro maio/jun. 2010.  Clique aqui para ler o artigo completo na RAP

Nesse trabalho, discutimos  a gestão do desenvolvimento local a partir de instrumentos selecionados por meio de uma análise exploratória não apenas conceitual e teórica, mas sobretudo prática.  Fizemos uma análise comparada de experiências regionalmente distribuídas, levando-se em conta suas inserções em redes sociais e seus resultados econômicos na região em que estavam inseridas.O foco da análise foi a articulação dos atores envolvidos, entendida como um elemento central de processos de desenvolvimento local.

Algumas questões centrais foram identificadas para orientar uma reflexão sobre a intervenção dos atores da sociedade civil e dos governos na formulação de propostas e iniciativas de desenvolvimento econômico local. Percebe-se que refletir sobre o desenvolvimento local exige que se observe as experiências em duas frentes: uma de reprodução da lógica capitalista em escala localizada (tradicional) e outra de tentativas contra-hegemônicas (solidária).

Agradeço aos amigos e grandes pesquisadores Rafael D’Almeida Martins e Eduardo Caldas  pela oportunidade de trabalharmos juntos neste artigo. Em meu nome e em nome deles, agradeço  à RAP e à Comissão Julgadora pela concessão do prêmio, e reforço os agradecimentos feitos no texto do artigo a todos os pesquisadores e instituições que colaboraram e participaram da pesquisa.


 

 


24 set
2011

As mudanças na gestão pública – Luis Nassif

Reproduzo abaixo texto de Luis Nassif (Coluna Econômica, 22/9/2011). O texto apresenta as principais idéias em torno do novo PPA,  da utilização de projetos estruturantes pelo governo federal e da articulação vertical de políticas públicas.   

Giovanni Fattori - Il Carro Rosso (ca. 1897)

As mudanças na gestão pública

Luis Nassif – Coluna Econômica – 22/09/11       

O lançamento do Plano Plurianual (PPA) – que orientará os investimentos públicos para os próximos quatro anos –, assim como do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) 2 permitem um bom balanço de como caminha a questão da gestão e do planejamento na área pública.

No caso do PPA, decidiu-se mudar o formato, como explica a Ministra Mirian Belchior (íntegra da entrevista no endereço http://youtu.be/qNrXvymf6xQ).  Em vez de um programa com viés orçamentário, um documento que deixe claro para a sociedade o que o governo pretende fazer.

Havia mais de 300 programas finalísticos. Foram reduzidos para 65 programas temáticos, embaixo dos quais entraram os programas de cada ministério, permitindo o trabalho transversal. Por exemplo, todas as crianças e adolescentes ficaram debaixo de um só programa, jogando nele as ações de cada ministério e as emendas sobre o tema.

Esse modelo foi tentado no “Avança Brasil”, ainda no governo FHC. Mas o PPA acabou se perdendo na quantidade excessiva de programas e objetivos.

Na elaboração do novo PPA, foi constituída uma representação dos diversos conselhos da sociedade civil, com 300 conselheiros, que participaram durante dois dias de uma discussão global sobre o PPA. No segundo dia, a discussão foi sobre como o PPA se desdobraria no território – na Amazônia, no nordeste, no sudeste etc.

Depois, houve cinco reuniões nas quatro regiões brasileiras, com estados e representações de municípios. No final de outubro haverá uma nova reunião, para discutir como a sociedade civil poderá acompanhar e fiscalizar cada programa.

No PPA, procurou-se mudar a natureza dos indicadores. Era comum entregar como resultado de um programa determinado número de ambulâncias. Agora, o indicador relevante será como cada programa influenciará o resultado final (no caso de ambulâncias, os indicadores de saúde).

Responsável também pelo PAC, Mirian Belchior julga ter chegado a hora de um salto qualitativo.

Nos primeiros quatro anos, todos – União, estados, municípios e empresários – tiveram que reaprender a fazer obras públicas. Chegou-se a resultados favoráveis, com 82% de obras concluídas e 97% dos desembolsos previstos.

Mas foi período de aprendizagem. Na primeira rodada, em 2007, por exemplo, ninguém tinha projetos para apresentar. Na segunda seleção, em 2009, o número de projetos excedia os recursos disponíveis.

A previsibilidade de recursos induziu as prefeituras a se organizarem. Prefeituras se estruturaram, o percentual de municípios com estrutura para programas habitacionais passou de 40% em 2005 para 80% em 2008.

Agora, o MEC (Ministério da Educação) preparou um curso à distância para gestores municipais com 30 mil vagas, abarcando amplo leque de temas.

Uma das experiências importante do período foi na chamada articulação horizontal (entre os diversos ministérios) e vertical (com outros entes federados).

No caso dos municípios, definiu-se uma metodologia nova. Primeiro, há reuniões presenciais em Brasília, no qual se discute o processo de seleção de projetos, priorizando os chamados projetos estruturantes.

17 set
2011

Os senhores feudais do conhecimento e do aprendizado

Publico abaixo texto de George Monbiot, publicado no The Guardian, em 30 de agosto de 2011, retirado do blog Competência Informacional para Bibliotecários e sugerido por John Robson, do Grupo de Inteligência Artificial e aluno do curso de Sistemas de Informação da EACH-USP.

Willian L. Picknell, The Banks of the Loing (ca. 1894–97)

O problema é realmente sério. Um professor da USP custeia sua pesquisa com recursos públicos. Entretanto, o sistema de avaliação da produção científica obriga esse pesquisador a publicar os resultados da pesquisa em revistas controladas por essas  empresas que faturam milhões à custa de estabelecerem barreiras ao acesso ao conhecimento.

Nem o professor que publica o artigo tem acesso a ele…

 

Os senhores feudais do conhecimento e do aprendizado

Como editoras acadêmicas adquiriram esses poderes feudais?

Por George Monbiot. Publicado no The Guardian, 30 de agosto de 2011

Tradução livre de Elisabeth Dudziak

Quem são os capitalistas mais cruéis no mundo ocidental? Cujas práticas monopolistas fazem o WalMart parecer uma loja de esquina e Rupert Murdoch parecer um socialista? Você não vai adivinhar a resposta. Enquanto há uma abundância de candidatos, meu voto não vai para os bancos, as companhias de petróleo ou as seguradoras de saúde, mas – vejam só – para as editoras acadêmicas. Esse setor pode parecer insignificante. Mas é tudo menos isso.

Todos concordam que as pessoas devem ser encorajadas a compreender a ciência e a pesquisa acadêmica. Sem o conhecimento atual, não poderíamos tomar decisões coerentes e democráticas. Mas os editores têm colocado cadeados e avisos de “mantenha-se longe” em seus portões.

Você pode se ressentir da política de Murdoch Paywall, que cobra £ 1 por 24 horas de acesso ao Times e Sunday Times. Mas pelo menos nesse período você pode ler e baixar muitos dos artigos que você gosta. A leitura de um único artigo publicado por uma das revistas da Elsevier vai custar $ 31,50 (1). A Springer cobra Eur34.95 (2), a Wiley-Blackwell, $ 42 (3). Se quiser ler dez artigos, pagará dez vezes esse valor. Além disso, as revistas retém direitos autorais perpétuos. Você quer ler uma carta impressa em 1981? Isso vai custar $ 31,50 (4).

Claro, você poderia ir à biblioteca (se ela ainda existir). Mas as bibliotecas também foram atingidas por essas taxas astronômicas. O custo médio de uma assinatura anual de uma revista de química é $ 3792 (5). Algumas revistas custam US $ 10.000 por ano ou mais. Um dos títulos mais caros é a assinatura da revista Biochimica et Biophysica Acta, da Elsevier, que custa 20.930 dólares americanos (6). Embora as bibliotecas acadêmicas estejam cortando freneticamente as assinaturas face às despesas, as revistas agora consomem 65% de seus orçamentos (7), o que significa que elas tiveram que reduzir o número de livros que compram. Essas taxas são um componente significativo dos custos das universidades, que estão sendo repassados aos seus alunos.

Murdoch paga seus jornalistas e editores, e suas empresas geram grande parte do conteúdo que usam. Mas os editores acadêmicos obtêm seus artigos, a sua revisão por pares (reconhecimento da qualidade por outros investigadores) e até mesmo grande parte da sua edição de forma gratuita. O material que publicam foi encomendado e financiado não por eles, mas por nós, através de subsídios governamentais de pesquisa e bolsas acadêmicas. Mas, para vê-lo, temos de pagar de novo.

Os retornos são astronômicos: no ano financeiro passado, por exemplo, a margem de lucro operacional da Elsevier foi de 36% (£ 724m em uma receita de £ 2000000000) (8). Tais lucros são resultado de um estrangulamento no mercado. A Elsevier, a Springer e a Wiley, que já comprou muitos dos seus concorrentes, agora publicam 42% de todos os artigos de periódicos publicados (9).

Mais importante, as universidades estão presas a estas editoras e a seus produtos. Trabalhos acadêmicos são publicados em um só lugar, e eles têm que ser lidos por pesquisadores que tentam manter-se atualizados em sua área. A demanda é inelástica e a competição inexistente, porque diferentes revistas não podem publicar o mesmo material. Em muitos casos, as editoras obrigam as bibliotecas a comprar um pacote grande de revistas, querendo ou não assinar todas elas. Talvez não seja surpreendente que Robert Maxwell tenha feito grande parte de seu dinheiro através de publicações acadêmicas.

Os editores afirmam que eles têm de cobrar essas taxas como resultado dos custos de produção e distribuição, e que agregam valor (como afirma a Springer), porque eles “desenvolvem as marcas das revistas, mantêm e melhoram a infra-estrutura digital que revolucionou a comunicação científica nos últimos 15 anos. “(10) Mas, uma análise do Deutsche Bank chega a conclusões diferentes. “Acreditamos que a editora acrescenta valor relativamente pequeno ao processo de publicação … se o processo fosse realmente tão complexo, caro e de valor agregado como alegam os editores, as margens de lucro de 40% não seriam alcançadas.” (11) Longe de auxiliar na divulgação da pesquisa, as grandes editoras impedem-na, quando não atrasam a liberaração e divulgação dos resusltados das pesquisas em um ano ou mais (12).

O que vemos aqui é o capitalismo puro: monopolizando um recurso público e, em seguida, cobrando taxas exorbitantes para usá-lo. Outro termo para isso é parasitismo econômico. Para obter o conhecimento que já pagamos, devemos nos render aos senhores dos feudos da aprendizagem.

É ruim o suficiente para os acadêmicos, mas é pior para os leigos. Refiro-me aos leitores dos artigos revisados por pares (peer-reviewed articles), que seguem o princípio da leitura das fontes originais. Os leitores me dizem que não têm condições de julgar por si mesmos se estou representado a pesquisa de forma justa ou não. Pesquisadores independentes que tentam informar-se sobre as questões científicas importantes têm de desembolsar milhares (12). Trata-se de um imposto sobre a educação, que sufoca a mentalidade pública. Parece contrariar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz que “toda pessoa tem direito à liberdade de … participar do progresso científico e de seus benefícios.” (13)

A publicação em acesso aberto, apesar de sua promessa, e alguns excelentes recursos como a Biblioteca Pública da Ciência e do banco de dados arxiv.org de Física, não conseguiu deslocar o monopolistas. Em 1998, The Economist apresentou um levantamento das oportunidades oferecidas pelas publicações eletrônicas, e previu que “os dias de margens de lucro de 40% estão em vias de morrer, tanto quanto Robert Maxwell.” (14) Mas, em 2010 as margens de lucro operacionais da Elsevier foram as mesmos (36%), como eram em 1998 (15).

A razão é que as grandes editoras têm arredondado para cima o que cobram pelas revistas que possuem os maiores fatores de impacto acadêmico, em que a publicação é essencial para pesquisadores que tentam garantir subsídios e progredir nas suas carreiras (16). Você pode começar a ler publicações de acesso aberto, mas você não pode parar de ler aquelas de acesso restrito.

Órgãos governamentais, com poucas exceções, não conseguiram enfrentá-los. Os Institutos Nacionais de Saúde nos EUA obrigam qualquer um que recebe bolsa a colocar seus documentos em um arquivo de acesso aberto (17). Mas os Institutos Nacionais do Reino Unido, cuja declaração sobre o acesso público é uma obra-prima de waffles sem sentido, contam com “a suposição de que os editores irão manter o espírito das suas políticas atuais.” (18) Pode apostar que eles vão.

No curto prazo, os governos devem consultar os editores acadêmicos e insistir que todos os documentos resultantes de investigação financiada com dinheiro público sejam disponibilizados em um banco de dados público e gratuito (19). A longo prazo, eles devem trabalhar com os pesquisadores para cortar o intermediário completamente, criando, ao longo das linhas propostas por Bjorn Brembs, um arquivo único e global de dados e de literatura acadêmica (20). A revisão por pares seria supervisionada por um organismo independente. Poderia ser financiada pelo orçamento das bibliotecas que está sendo desviado para as mãos dos corsários.

O monopólio do conhecimento é tão injustificado e anacrônico como as Leis do Milho. Vamos jogar fora esses senhores parasitários e liberar a pesquisa que nos pertence.

Acesso ao artigo original: http://www.monbiot.com/2011/08/29/the-lairds-of-learning/

Referências:

1. Eu comprovei os valores cobrados pelas revistas da Elsevier: Journal of Clinical Epidemiology; Radiation Physics e Chemistry and Crop Protection, todas custam EUA $ 31,50. Artigos da quarta publicação que verifiquei, o Journal of Applied Developmental Psychology, custam EUA $ 35,95.

2. Eu comprovei os valores cobrados pelas revistas da Springer: Journal of Applied Spectroscopy, Kinematics and Physics of Celestial Bodies e Ecotoxicology, todas custam Eur34.95.

3. Eu comprovei os valores cobrados pelas revistas da Wiley-Blackwell: Plant Biology, Respirology e Journal of Applied Social Psychology, todas custam EUA $ 42,00.

4. Fiz uma busca nos arquivos da revista Applied Catalysis da Elsevier, e verifiquei os custos do material publicado em sua primeira edição: Abril de 1981.

5. Bjorn Brembs, 2011. What’s Wrong with Scholarly Publishing Today? II. http://www.slideshare.net/brembs/whats-wrong-with-scholarly-publishing-today-ii

6. http://www.elsevier.com/wps/find/journaldescription.cws_home/506062/bibliographic

7. The Economist, 26 de maio de 2011. Of goats and headaches. http://www.economist.com/node/18744177

8. The Economist, como acima.

9. Glenn S. McGuigan e Robert D. Russell, 2008. The Business of Academic Publishing: A Strategic Analysis of the Academic Journal Publishing Industry and its Impact on the Future of Scholarly Publishing. Electronic Journal of Academic and Special Librarianship, v 9, n 3.
http://southernlibrarianship.icaap.org/content/v09n03/mcguigan_g01.html
10. Springer Corporate Communications, 29 de agosto de 2011. Por e-mail, falei com a Elsevier e pedi um comentário, mas eu não recebi resposta.

11. Deutsche Bank AG, 11 de janeiro de 2005. Reed Elsevier: Moving the Supertanker. Global Equity Research Report. Citado por Glenn S. McGuigan e D. Robert Russell, como acima.

12. John P. Conley e Myrna Wooders, março de 2009 But what have you done for me lately? Commercial Publishing, Scholarly Communication, and Open-Access. Economic Analysis & Policy, v39, n 1. www.eap-journal.com/download.php?file=692

13. Artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. http://www.un.org/en/documents/udhr/index.shtml#a27

14. The Economist, 22 de janeiro de 1998. Publishing, perishing, and peer review. http://www.economist.com/node/603719

15. Glenn S. McGuigan e Robert D. Russell, como acima.

16. Ver Glenn S. McGuigan e Robert D. Russell, como acima.

17. http://publicaccess.nih.gov/

18. http://www.rcuk.ac.uk/documents/documents/2006statement.pdf

19. Danny Kingsley mostra como uma pequena mudança pode fazer uma grande diferença: “Atualmente todas as universidades coletam informações e uma cópia de todos os artigos de pesquisa escritos por seus acadêmicos a cada ano. … Mas a versão dos documentos coletados está em PDF e, na maioria dos casos, esta versão não nos permite ter acesso aberto através de repositórios digitais. … A infraestrutura está lá e os processos já estão em vigor. Mas há uma pequena mudança que tem que acontecer antes que nós possamos desfrutar do acesso substancial à pesquisa australiana. O Governo deve especificar a exigência da versão aceita (a versão final corrigida e aceita) dos trabalhos, em vez da comunicação em PDF da Editora. ”
http://theconversation.edu.au/how-one-small-fix-could-open-access-to-research-2637

20. Bjorn Brembs, como acima.

 

 

12 set
2011

Seminário: Política de Drogas no Brasil

O mandato do Dep. Federal Paulo Teixeira (PT-SP) promove, no próximo sábado, dia 17, um seminário sobre política de drogas no Brasil.

O evento pretende discutir como formular uma política que, ao mesmo tempo, combata o crime organizado e dê um tratamento adequado aos usuários de drogas no país.

Para tanto, vai reunir profissionais, pesquisadores e militantes de diversos setores da sociedade, com o intuito de angariar uma vasta gama de contribuições acerca do tema.

As discussões serão organizadas em duas mesas:

  1. Drogas: questão de polícia ou de saúde pública?
  2. Reprimir os descriminalizar? Aspectos jurídicos e sociais.

O seminário é aberto aos interessados.

 

10 set
2011

11 de Setembro na América Latina

Nossa imprensa, quando não é mal-intencionada, é ignorante e incompetente. Por isso, só fala dos 10 anos dos atentados de 11 de setembro de 2011, em Nova Iorque, como se fosse a única coisa que aconteceu nesssa data.

Como sempre, de costas para o restante da América Latina e de costas para a democracia, os cidadãos honorários de Miami nem falam do significado de 11 de setembro para a América Latina.

Para os países da região, 11 de setembro significa o dia de um atentado terrível à liberdade, à democracia e à auto-determinação dos povos.

É o aniversário do golpe que, em 1973, depôs o presidente do Chile, Salvador Allende, implantando uma ditadura sanguinária, assassina e traidora da pátria chilena.

O golpe, mais um tramado com o apoio do governo dos EUA, humilhou, mais uma vez, toda a América Latina.

Hoje, a juventude chilena levanta-se contra o legado daquele golpe, clamando pelo direito de todos à educação, e por um Estado que se preocupe com os cidadãos, não apenas com o capital. De certa maneira, os jovens chilenos lutam para realizar o que o próprio Allende anunciou, poucos minutos antes de sua morte, durante o golpe:

“Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor”


Pablo Milanes – Yo pisare las calles nuevamente por MeGustaTuMusica

7 set
2011

Presidenta Dilma Roussef: pronunciamento de 7 de Setembro

Pronunciamento da Presidente da República, por ocasião do dia da independência: faz uma listagem de importantes realizações e prioridades da agenda de seu governo.

Destaco o compromisso com defesa da indústria nacional e com a expansão da educação e das bolsas para pós-graduação no exterior.

Senti falta de dois temas: defesa da soberania e inclusão digital.

29 ago
2011

Políticas Inovadoras em Gestão no Brasil – Marcelo V. E. Moraes

Clique aqui.para baixar o artigo Políticas Inovadoras em Gestão no Brasil, de Marcelo V. E. Moraes, apresentado no II Congresso Consad de Gestão Pública, em 2010. No artigo, o autor, então responsável pela Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, faz um balanço das inovações recentes em gestão pública no governo federal.

Este texto é a leitura indicada para a próxima aula da disciplina Tendências e Inovações em Gestão Pública.

 

24 ago
2011

O Metrô e a degradação de S. Paulo

A Rede Brasil Atual publicou uma entrevista com o presidente do Sindicato dos Metroviários de S. Paulo, Altino de Melo Prazeres Junior, apontando uma série de problemas que o Metrô de São Paulo enfrenta. A entrevista é esclarecedora sobre como a degradação urbana de São Paulo caminha ao lado da redução do nível de serviço e da lentidão da expansão do metrô.

A entrevista deixa evidente que o Metrô de São Paulo não conseguiu dar conta da expansão da demanda dos últimos anos. A um ritmo de pouco mais de 2 km/ano, nos últimos anos (era menor nos anos 1990 e início dos anos 2000), São Paulo levará mais de 30 anos para atingir a meta de 200 km de vias de metrô.(1)

Paul Gauguin: La Petite Laveuse (1887)

Não é somente um problema de planejamento, mas de execução, como demonstra a baixa capacidade de execução orçamentária dos investimentos previstos: entre 2008 e 2010, deixaram de ser investidos 37% dos recursos planejados e alocados à expansão do serviço, segundo o presidente do sindicato.

Também é um problema de gestão, a se considerar os problemas de manutenção e aquisição de trens e sistemas de controle apontados pelo entrevistado. E os problemas de gestão tenderão a se agravar, se lembrarmos que a sobrecarga sobre o sistema é crescente e esse tipo de condição também sobrecarrega a gestão de qualquer companhia, facilitando a ocorrência de erros.

Mas há uma terceira dimensão, que a entrevista não aborda. Os problemas que o Metrô de São Paulo enfrenta também são problemas de governança metropolitana, e, especificamente, de governança da mobilidade urbana.

Veja-se os problemas decorrentes da integração tarifária na Região Metropolitana de S. Paulo (RMSP), gerados pela implantação do Bilhete Único na capital: primeiro, uma injustificada demora para implantação, motivada por disputas partidárias; depois, a dificuldade de gerenciar o impacto nos modais ferro e metroviário.  Ou a inexistência de bases de dados públicas e comuns sobre o transporte urbano na RMSP, ou o baixo nível de integração física no transporte por ônibus. Sem contar a desarticulação do planejamento dos serviços.

Na RMSP temos mais de 50 agentes públicos envolvidos diretamente com o assunto: no governo estadual, a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos, a EMTU, o Metrô,   a CPTM, a Secretaria Estadual de Transportes, a DERSA e o DER; na capital,  a Secretaria Municipal de Transportes, mais a SPTrans e a CET; além de 38 outros municípios com poder para legislar e operar serviços de mobilidade urbana, em alguns casos com suas empresas municipais de transporte urbano. Isso sem contar outros órgãos públicos, com ligação indireta, mas muito relevante,  como os órgãos ambientais e de planejamento urbano.

As iniciativas e mecanismos de governança para articular a ação desses atores são absolutamente frágeis, como, de resto, em outros campos relevantes da governança das regiões metropolitanas no Brasil.

Vale a pena ler a dissertação de Nina Best (2), que trata do caso do transporte urbano na Região Metropolitana do Recife, para refletir sobre possibilidades e aprendizados para se avançar na gestão metropolitana dos transportes urbanos em São Paulo. (Sim, é possível descer da soberba paulistana e aprender com as experiências de outros estados que já avançaram mais!)

Sem esses avanços, continuaremos muito longe de um transporte público de qualidade, digno e que melhore a condição de vida dos cidadãos. Até que ponto devemos continuar conformados com um transporte público que promove a degradação da cidade e é fator de expulsão de moradores e de investimentos, além de gerar pesadíssimos danos ambientais e urbanísticos?

 

VEJA OUTROS POSTS SOBRE O METRÔ DE SÃO PAULO.

___________

(1) Observe-se que a matéria não considera a totalidade dos serviços  por trilhos (Metrô + CPTM), para comparar São Paulo com outras metrópoles latino-americanas. Ainda assim, e face às dificuldades da CPTM para ofertar um nível de serviço satisfatório, a capital paulista fica devendo muito às demais. Ou, melhor dizendo, a seus cidadãos…

(2) BEST, Nina J. Cooperação e Multi-level Governance: o Caso do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano. S. Paulo, EAESP-FGV. Dissertação de mestrado, 2011. Disponível em http://migre.me/5ys47

 

 

 

23 ago
2011

Os grileiros da saúde em SP

O Pronto Socorro do Hospital Santa Marcelina, referência do SUS na zona leste de S. Paulo, está fechado para novos pacientes desde sábado (20/8), devido à superlotação e à falta de recursos para atendimento.

Para o governo estadual, no entanto, isto não parece problema. O governo estadual e sua base de apoio na ALESP preferem atuar como um bando de grileiros, que vende o que não é seu: a saúde dos pobres.

Cândido Portinari: Criança Morta (1944)

Tanto que segue vigente a Lei estadual paulista 1.131/2010, a Lei da Dupla Porta, que permite que leitos de hospitais públicos administrados por Organizações Sociais (OS) sejam comercializados junto a planos de saúde ou particulares. Ou seja, como já comentei aqui antes:  o hospital, construído e financiado com dinheiro público, poderá ser explorado comercialmente por uma organização privada. Algo como se o governador me contratasse como motorista de seu veículo oficial, e deixasse que eu utilizasse o carro para fazer corridas como táxi nas horas livres.  (Veja aqui meu comentário anterior sobre este assunto.)

Quem ganha com isso? As OS faturam um troco e os planos de saúde deixam de investir em hospitais para alugar leitos mais baratos, porque pagos com o dinheiro de um terceiro (o governo do estado), que não ganha nada com isso.

Agora, o pesquisador da FMUSP Mário Scheffer nos alerta que o governo estadual pretende ampliar  a doação de leitos, aprovando lei que legaliza de vez a prática também no Hospital das Clínicas.  Para Mário Scheffer, esse é o maior ataque ao SUS desde o famigerado PAS, do prefeito Maluf, no início dos anos 1990.

Enquanto isso, na Zona Leste, os pobres,  em busca de um pronto-socorro, vagueiam como “cegos pelo continente”, carregando, como peninentes, as pedras do desprezo a que lhes submeteram. Sua saúde está à venda:  os “grileiros da saúde” vendem o que não é seu, sem se importar com as consequências.

Parece que os assessores do governador e do Prof. Giovanni Cerri, ex-diretor da FMUSP e secretário estadual de saúde, não os informaram adequadamente sobre o problema do Santa Marcelina. Eles têm mais com que se ocupar: devem estar atarefados com a implantação da generosa política de apropriação privada de recursos públicos escassos em que se tranformou a saúde em São Paulo.

 

22 ago
2011

Transformar a metrópole. Igreja católica, territórios e mobilizações sociais em São Paulo 1970-2000

No próximo dia 23/08, terça-Feira, 14 h, ocorrerá palestra de Catherine Iffly com o tema “Transformar a metrópole: Igreja católica, territórios e mobilizações sociais em São Paulo 1970-2000“, tema de livro homônimo (Ed. UNESP, 2010). Acontecerá no Anfiteatro 2 (Ciclo Básico) da EACH (USP Leste).

Trata-se de uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da EACH-USP.

Victor Brauner - Prelude to a Civilization (1954)

Ao final da palestra, a professora Catherine Iffly estará disponível para conversar com estudantes e pesquisadores com interesse no tema.

O livro analisa a participação política da Igreja Católica em momentos decisivos da história do Brasil. Partindo do período em que a instituição começou a mudar sua atuação perante questões de interesse social, a professora Catherine Iffly utiliza ainda a cidade de São Paulo como foco de sua pesquisa.

O interesse do livro é focalizar de maneira relacionada o desenvolvimento de algumas metrópoles européias e as metamorfoses da capital paulista. A autora focaliza o papel da Igreja católica nestas transformações da cidade. Mais precisamente, diante de lógicas internas e externas altamente limitadoras e determinantes, que deixavam pouca margem de ação à maioria da população de São Paulo – a população pobre – a Igreja católica contribuiu no sentido de recuperar, graças à união e à organização, alguma margem de liberdade e de autonomia aos movimentos populares (por tênue que fosse), num período marcado justamente por uma ampliação e uma disseminação geográfica da pobreza.

A maior metrópole do país serve como referência justamente por sua posição central nas alterações político-sociais ocorridas no Brasil no final do século passado. As greves e os movimentos sociais dos quais São Paulo foi palco chamaram a atenção da cientista política para estabelecer uma relação destes acontecimentos com a atuação da Igreja Católica. A obra desvela a estratégia de dom Paulo Evaristo Arns, que esteve à frente da arquidiocese de São Paulo de 1970 a 1998, de reformular a organização da Igreja nas grandes cidades. Um livro de história que trata de assuntos poucas vezes tratados.

Sobre a autora
Catherine Iffly é formada em Filosofia pela École Normale Supérieure e doutora em Ciência Política pela Université Panthéon-Assas (Paris II). Foi professora da Freie Universität de Berlim. É autora de obras na área de política internacional e sobre religião e política.

12 ago
2011

A revolta em Londres: quem são os verdadeiros criminosos?

Vejam esta entrevista de Silvio Caccia Bava, coordenador geral do Instituto Pólis e editor da edição brasileira do Le Monde Diplomatique à Globonews, sobre a revolta popular em Londres.

O melhor ponto, para mim, é quando ele responde à pergunta da jornalista da Globo sobre o que fazer com esses “criminosos”. Está em 4:35.

4 ago
2011

ACH3687 – Tendências e Inovações na Gestão Pública – Programa 2011

Programa da disciplina: clique aqui.

Horários: Quinta-feira às 10h15, na sala 234;  e Sexta-feira às 19h, na sala 224.

Follow Me!

Follow Me! Follow Me! Follow Me! Follow Me!